sexta-feira, 30 de abril de 2010

Um canto de liberdade


Um Canto de Liberdade
Por Luiz Carlos Prates
Duas dificuldades me tiravam do sério. A primeira era escolher a cadeira; a segunda, o livro. É que eu decidira ler debaixo de uma árvore. A boa leitura exige boa cadeira e a boa cadeira pede um bom livro. De modo, que essa era a minha dificuldade.
Optei por uma velha cadeira de praia, dessas cadeirinhas de lona, de pouco conforto para os mais delicados. Acabei achando que essa era a cadeira mais indicada, gosto é gosto, bem sabemos todos.
Decidida a cadeira, faltava o livro. Que livro pegar? Tenho tantos e tantos livros ainda não lidos que a fartura tanto me causa dificuldades de escolha quanto sentimentos de culpa. Livros e leituras atrasadas deixam-me inquieto. Pensei, pensei e decidi. Fui "lá dentro" e trouxe o livro Segredos da Vida, de uma médica americana que durante muito tempo tratou de pessoas em estado terminal, até que ela mesma virou paciente terminal. Acabou escrevendo esse livro, que é uma preciosidade para que descubramos a vida antes de perdê-la...
Pronto, definida a cadeira, escolhido o livro, lá me fui, para baixo de uma árvore. Se alguém me perguntar que árvore era, fico devendo, não conheço árvores nem presto atenção a elas na definição de suas raízes.
Sentado, livro aberto nas mãos, primeiras linhas vencidas e.... um barulho para tirar-me da concentração. Barulho? Barulho ou música? Música, sem dúvida, música. E da melhor, executada sem partituras nem instrumentos a exigir afinação, música pura, afinadíssima.
Sabes o que era e de onde vinha a música? Era um passarinho, dele vinha a música. Sem que eu precisasse pagar por qualquer "consumação", sem que eu precisasse levantar ou baixar o som para adequá-lo a melhor audição, tudo na medida.
Um canoro pássaro do tamanho da palma da minha mão, não mais. Que gracinha. E veio cantar justamente sobre a minha cabeça, que corajoso, que companheiro. E que "intruso". Fez-me parar com a leitura, fechar o livro e pensar sobre ele e na vida.
Como pode dentro de um bichinho tão pequeno haver tanta harmonia? De onde vem o som da música que ele reparte com todos sem estufar o peito de qualquer vaidade que se confunda com as frivolidades humanas? De onde ele veio? Para aonde ele vai depois de me fazer essa serenata matutina? Ah, faltou dizer que era manhã, ali pelas 10 horas.
O passarinho me fez dispensar a leitura dos sofrimentos das pessoas, objeto do livro Segredos da Vida, e dar-me a pensar sobre as belezas, belezas naturais, liberdade e destino. Santo Deus, como me senti pequeno diante daquele passarinho. Seria por isso, por pequenez, que os seres humanos tiram a liberdade dos pássaros? Seria por inveja? Ou seria por vingança? Quem sabe por insensibilidade? Não me sobram dúvidas, é mesmo por falta absoluta de clareza da mente que muitos humanos tiram dos pássaros o que mais remotamente na história humana configurou nossa primeira e mais inesquecível frustração: não poder voar.
Nos jogos verbais dos processos psicanalíticos, quando se diz a palavra asa e se pede ao cliente que diga o que primeiro lhe vem à cabeça, a resposta infalível é voar. E quando se diz voar a primeira palavra que mais surge é liberdade.
Os pássaros foram dotados de asas para voar, foram premiados pela natureza e pela inspiração dos céus com o ilimitado dos horizontes, mas são, todavia e não raro, aprisionados cruelmente para que seus carcereiros possam gozar da música natural de que os pássaros são capazes, do mesmo modo tiranos das mais severas ditaduras da história humana transformaram filósofos e pensadores em escravos. É a vingança dos insensíveis diante da incompreensão do sagrado direito à liberdade, que no caso dos pássaros se expressa pelo poder das asas.
O canto de passarinho, livre e pousado sobre um ramo de árvore é canto, é alegria de vida, é celebração de liberdade. Esse mesmo canto, quando encarcerado o pássaro, transforma-se em pungência e lamento, ainda que os sons sejam parecidos. Os insensíveis são incapazes de notar as diferenças nas notas da mesma música.
Que crueldade um passarinho preso nos limites brutais de uma gaiola sem que tenha violado qualquer lei da natureza, sem que tenha dado ao ser humano qualquer razão para seu encarceramento. Que triste um bicho desses numa gaiola de loja ou de apartamento, com pouca água, com água sua, morna, comendo farelo sem gosto inventados por seres humanos que não deviam ter nascido. E que triste um pai dar aos filhos essa lição de crueldade sob o manto falso do amor aos bichos. O verdadeiro amor abre portas, o verdadeiro amor dá liberdade, o verdadeiro amor ama sem posses. O verdadeiro amor não limita espaços, o verdadeiro amor deixa voar.
Não pude continuar a minha leitura, mas não me lamento disso. Um passarinho me veio cantar de graça, bem sobre a minha cabeça. Não precisei prendê-lo numa arapuca nem fazê-lo viver como meu escravo cantando para mim o que para ele são os lamentos da prisão.
Amanhã vou voltar à minha árvore, já decidi pela cadeira e sei que ele voltará... Voltará cantando como cantam todos os pássaros em liberdade, um canto que não se confunde com a plangência da gaiola.

9 comentários:

Amélia Ribeiro disse...

Olá!

Há um presente no meu blog que quero partilhar contigo... dessa forma quero que participes da minha alegria... se o desejares leva-o... ficaria muito feliz...!!!

Um beijo.

Alma Inquieta

valterpoeta.com disse...

Bom fim de semana minha querida, bjs

Existe algo misterioso
no silêncio de seu olhar
que talvez nunca revele
pois, a mente feminina
é um perigoso enigma
que em vão, os homens
pretendem desvendar.
Mas, para quê conhecer
esse hermético segredo?
Se nosso grande objetivo
sempre por nós perseguido
é encontrar a felicidade
realizar nossos desejos.
Então, não faz sentido
compreender essa paixão!
O que interessa é o milagre
que dá sentido nessa religião.
Ao matar a sede dos corpos
em seu ato misericordioso
vai aos poucos libertando
seus devotos sequiosos
de um enorme desprazer
e, mesmo sem entendê-las
estamos libertos e felizes
duma existência triste e vazia
sem o amor de uma mulher!

Valter Montani

Marcia disse...

Oi amigaaaa.nossa que bom que vcs aceitaram serem minhas madrinhas...
Logo vou colocar a novidade no blog...
Obrigada pelo carinho...vcs são especiais demais para mim...
Tenha um final de semana abençoado...
Bjs...Mar...

Anônimo disse...

Adorei o textinho. Miss, como gosto de seus cantinhos, antes visitava sempre o msmo, mas agr me apaixonei pelos outros tambem, entao, cada hora visitarei um!
Combinado?
Bom final de semana!

Luciana disse...

Oi Miss

Um ótimo fim de semana

Bjs

Anônimo disse...

Amigaaaaaaaaaaaaa,esta tudo bem?

- Moisés Correia - disse...

Olá!
Passando para deixar um abraço
E desejar um bom fim-de-semana!

(e)terno abraço na alma!

- Moisés Correia -

Marcia disse...

Oi madrinha linda....devagar vou arumar os detalhes do nosso cantinho...quero aproveitar o final de semana para ajeitar tudo...
Tenha um final de semana muito abençoado e repleto de felicidade...Bjs...Marcia...

ONG ALERTA disse...

Cada lugar que buscamos é mágico, paz.